Este texto é tradução do post: Food Shame: The Morality of Eating
Tradutora: Isabel Figueiredo
Vergonha alimentar: a moralidade e a comida
Semana passada em meu post do Paleo f(x), eu comentei que minha melhor apresentação no evento, “Tweaking the Recipe to Create an Awesome Life,” (Ajustando a receita para criar uma vida extraordinária), eu falei sobre a evolução da minha filosofia sobre moderação para um bem maior. Um leitor deste site (Mark’s Daily Apple) “His Dudeness” comentou que está ficando muito comum misturar moralidade e as escolhas alimentares. Ainda no “modo” f(x), este tópico estimulou meu interesse. Bem além dos rótulos excêntricos (e enganosos) sobre o conteúdo de gordura, hoje nós vemos frases do tipo “sem culpa”, “humano” e “comércio justo”. Os corredores de supermercados se tornaram um cenário ético nauseante.
Não importa o quão bem estamos em termos de escolhas alimentares responsáveis (por exemplo comer carne de boi de pasto), vai aparecer alguém "tirando onda" que está comendo "bife de raça com pedigree". Se formos o tipo de pessoa mais sensível ou talvez só mais competitivas, de repente seremos engolidos pela versão cômica da vergonha social e inferno ético. Como foi que trocamos sanidade por perfeccionismo, e como encontramos o caminho de volta? Quando a questão é tomar simples decisões alimentares, onde colocamos a linha que separa o “praticar o conhecimento útil” e o “colocarmos a nós mesmos em um desafio moral”?
Fato é que, comer não é mais uma iniciativa simples. Como muitas coisas da vida hoje em dia, podemos sentir que sabemos muito. “Este tipo de comida é criado a partir da destruição de florestas”. “Aquele tipo de comida é produzido por pessoas vivendo em condições injustas”. “Se você compra o produto X, você está apoiando esta prática destrutiva para a agricultura e para o comércio”. E isso nem chega aos pés da menos política, mas mais pessoal, vergonha inerente a determinadas hipóteses abomináveis e intensas do tipo “Bem, se você respeitasse seu corpo, nem tocaria nisto” ou “Você realmente não deve estar nem aí para sua aparência.” Eu te aconselharia a evitar a convivência com este tipo de pessoa a todo custo, mas o fato é que, nossos piores críticos somos geralmente nós mesmos.
Infelizmente, se você examinar profundamente, praticamente todas as escolhas alimentares podem te colocar no “trem da vergonha”. Certamente, em algum momento, vamos ter que recusar o passeio.
Atualmente, se você passar muito tempo lendo, pesquisando e ouvindo essa mídia psicótica, você vai ter o peso do mundo nos seus ombros a cada mordida ou gole que você der. É mais fácil desejar a ignorância nesses momentos. Se a comida – sem falar de todo o complexo do agronegócio – não fosse tão complicada. Se uma refeição pudesse ser apenas uma refeição novamente…
Grok não tinha que lidar com essas críticas morais e mentais. Será que eu não posso desfrutar de um bife sem ter que justificar minha existência, aparentemente egoísta, por ter escolhido comê-lo? Posso comer uma salada sem me sentir culpado pela morte de animais que perderam suas casas (ou suas vidas) por causa da expansão da agricultura? E, meu deus!, será que eu posso comer um biscoito sem ter que aguentar a opinião da “polícia paleo”, das outras autoridades dietéticas ou de qualquer outro “chato de galocha”?
Eu entendo que qualquer opção dietética, incluindo a Primal, naturalmente nos leva a preferir algumas comidas ao invés de outras. Vamos aprendendo o que certas comidas fazem com nosso corpo (bem ou mal) por seus conteúdos de nutrientes, seu tipo de processamento, seus ingredientes adicionados, etc. As opções devem, como a Primal faz, salientar as condições nas quais certas comidas – tanto de fonte animais ou plantas – são criadas e até o impacto que certas escolhas tem no ambiente em geral. Para mim, tudo isso é conhecimento, toda informação que podemos usar como quisermos para tomar decisões que se adaptam a nossas necessidades e talvez sirvam para moldar nossos valores pessoais.
Valores… isso pode significar milhares de coisas diferentes para milhares de pessoas diferentes. Para algumas pessoas, eles têm mais a ver com princípios políticos. Para outras, causar “nenhum dano/danos mínimos” é o que importa quando se trata do bem-estar animal ou das preocupações ambientais. Talvez seja um sério/real investimento na integridade da saúde, um interesse nos direitos dos trabalhadores ou até mesmo o seguimento estrito de algumas diretrizes religiosas.
Não importa o assunto, nós tentamos viver nossas vidas de acordo com nossos valores pessoais. Eles são prioridades, mas não têm o mesmo sentido de dogma. Eu pessoalmente vejo este “estar de acordo” como “gravitação”. Naturalmente nós gravitamos em direção a escolhas que estão de acordo com nossos valores porque experimentamos uma homeostase quando o fazemos. Nossas vidas são geralmente, ou cada vez mais, congruentes com nossas prioridades, e há uma certa paz nisso.
Por exemplo, meus valores apoiam a otimização da saúde para a grande maioria das pessoas e a promoção da sustentabilidade sempre que for razoável. Já que tenho recursos para comprar toda minha comida de fontes de produção éticas e sustentáveis, eu faço isso. Eu também escolho apoiar financeiramente algumas companhias como Thrive Market que buscam disponibilizar opções saudáveis para mais pessoas. Para mim, isso define o que é viver (e investir) de acordo com a realidade de onde vivo, da maneira como eu defini para mim mesmo.
Ainda assim, tenho certeza de que muitos críticos encontrariam milhares de coisas “erradas” comigo, segundo suas próprias percepções do estilo de alimentação que eu escolhi – comer certas coisas preferidas que precisam ser trazidas do outro lado do país e as vezes do outro lado do mundo, comer muita carne, ter comido uma sobremesa numa festa há duas semanas, etc.
Por causa do pensamento absolutista de alguns críticos (externos ou internos), o progresso é inimigo da perfeição. Ao invés de viver segundo seus valores, eles preferem impor uma tirania da culpa dos “deveriam”, “precisariam” e “falharam”.
Nós somos tão bons quanto mais correta tiver sido nossa última refeição, segundo esta abordagem. Nossas escolhas se tornam nossos avais, e nossas identidades ficam presas a estes avais. Quanto mais “limpa” for nossa dieta, mais limpos e mais santos seremos como pessoas.
É aqui que as coisas saem dos eixos para mim. Eu não vou participar dessa viagem da culpa, muito obrigado. E, por falar nisso, eu sou o único que acha este caminho exaustivo?
Infelizmente, muitas pessoas às vezes podem não legitimar assuntos que tenham a ver com escolhas alimentares por causa de um moralismo exagerado. Empresas de comida lixo chegam a ganhar dinheiro com a rejeição agressiva, promovendo atitudes hedonistas e imprudentes. Todo essa coisa de empurrar seus produtos as pessoas se torna um circo perpétuo de fabricação-insana.
Podemos escolher viver nesse conflito interminável, ou fora dele. Ao invés de tentar competir ou disputar para manter ou rejeitar nosso desejos, podemos nos focar em nossos valores, nossas necessidades, nosso entendimento e nossas circunstancias. No encontro desses fatores, encontramos nosso “centro” – o lugar mais lúcido onde viver e onde fazer nossas escolhas.
Eu realmente sugiro que você aprenda sobre sua alimentação – para seu próprio bem-estar e até para o de outras pessoas. Além disso, eu sugiro deixar qualquer tipo de vergonha, comparação e justificativa fora dessa equação. Acredite em sua intuição para tomar decisões baseado em informações sólidas, e não em engodos emocionais. Essa é uma perspectiva mais sadia e mais sustentável– fazer escolhas alimentares cuidadosas e segundo seu conhecimento da comida ao invés de tentar se identificar moralmente com ela.
O texto acima foi escrito por Mark Sisson, o fundador do movimento Primal. Mas e quanto a você ? O que você pensa sobre moralidade alimentar ?
Compartilhe suas ideias conosco !!!
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