Quem nunca ouviu o aforismo “Conhece-te a ti mesmo” ? Seja no inglês “Know thyself” ou ainda no latim “nosce te ipsum” ou “temet nosce”. A verdade é que o termo é uma das máximas de Delfos e teve origem na grécia, tendo sido já utilizada com as intenções de: “ultrapassar aquilo que você é” ou “não atente para a opinião da multidão”. Para muitos esta expressão traz a necessidade de se desafiar o suficiente para conhecer seus limites ou mesmo suas capacidades. Sem considerar as questões filosóficas de “CONHECE-TE A TI MESMO”, vamos aproveitar este fundamento e ver como podemos conhecer mais sobre o nosso corpo.
Auto-experimentação é um termo que se refere a um caso muito especial de experimentação científica isolado, onde o experimentador conduz o experimento em si próprio. Ele (geralmente) assume todos os papeis: o de elaborador do experimento, o de analista dos resultados além de ser o próprio objeto de estudo.
O primeiro registro de um auto-experimento aconteceu em cerca de 605 AC, com o profeta Daniel que decidiu se abster de alimentos (ou restringí-los) em dois momentos distintos: o primeiro durou 10 dias e outro 21 dias; os relatos podem ser encontrados no livro de Daniel nos capítulo 1 e capítulo 10, respectivamente.
A auto-experimentação é amplamente utilizado e na ciência trouxe descobertas muito interessantes para a humanidade. Há cerca de 7 anos a revista Scientific American Brasil publicou uma sequência de artigos com o título: Pesquisadores se tornam suas próprias cobaias em nome da ciência. Você pode acompanhar o artigo na íntegra nos links: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 (surpreendentemente o capítulo 2 aponta para o 7; vai entender).
No pubmed (um repositório de artigos científicos utilizado por órgãos de pesquisa ao redor do mundo) é possível se observar mais de 800 artigos acerca de "self experimentation" (auto-experimentação em inglês). Mas longe de querer falar sobre suas implicações éticas, filosóficas etc, é importante salientar que AUTO EXPERIMENTAÇÃO É UTILIZADO POR TODO SER HUMANO; e bem antes de sabermos falar ou analisar fatos, já tiramos inúmeras conclusões sobre nossa pessoa.
Se você entender a real proposta da auto-experimentação, é fácil perceber que somos resultado de nossas experimentações diárias; afinal tudo o que somos é resultado da coleta incessante de modificações, alterações e adequações que experimentamos em todos os aspectos de nossa vida.
Mas como aumentar seu conhecimento em relação ao acréscimo, mudança ou restrição de algo ? Por sermos muito diferentes uns dos outros a auto-experimentação é a melhor maneira de observar o que funciona para cada um de nós. É importante considerar que uma determinada pessoa terá um comportamento ligeiramente, ou até muito, diferente da nossa ! Nas ciências aplicadas utiliza-se uma regra simplificada de que uma dose de medicamento, por exemplo, é esperado atuar de forma esperada em cerca de 80% de uma população, sendo que 10% das pessoas devem apresentar um quadro de hipersensibilidade e outros 10% de hipo sensibilidade, por isso (e outras questões também como cruzamento de princípios ativos) a auto-medicação é tão perigosa, sendo inclusive esforço da OMS sua promoção.
Então a real questão que queremos responder com este post é:
COMO POSSO UTILIZAR AUTO-EXPERIMENTAÇÃO PARA CONHECER O MEU PRÓPRIO CORPO ?
Começaremos com um pouco sobre a base do método científico. A coisa é simples e você não precisa cursar uma faculdade para se tornar um cientista você mesmo, nem ler artigos e mais artigos. Minha proposta é que você apenas leia a definição que é passasa a alunos entre 12 e 15 anos, será mais que suficiente. Leia no site InfoEscola sobre: O Método Científico.
Em resumo, você precisa:
- Observar uma condição
- Encontrar uma forma de verificá-la
- Encontrar hipóteses para testar
- Realizar um experimento para obter dados
- Analisar os dados para alcançar uma conclusão*
* na verdade até você obter uma conclusão você pode precisar realizar alguns experimentos
A coisa (de fato) é muito mais complexa, no entanto isso é o suficiente para você realizar seus próprios experimentos e avançar no conhecimento do seu próprio corpo.
O que você precisa agora é criar um experimento simples, e executá-lo com a intenção de conhecer um pouco mais sobre auto-experimentação; DESAFIE-SE !
Se você aceitar, gostaria de lhe sugerir algo simples de observar: as mudanças em seu corpo com a inclusão de probióticos.
Probióticos, de acordo com a OMS (FAO/WHO), são: organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro. Confira em Food safety and quality: Probiotics
Eu, particularmente, faço uso de iogurtes integrais naturais e do leite fermentado Yakult* !
* Escolhi o Yakult dentre tantos outros leites fermentados por ter a melhor relação custo benefício após pesquisar a quantidade de microorganismos junto aos SAC das empresas e também por uma breve, porém interessante, auto-experimentação.
Uma vez aceito o desafio (e espero que também a sugestão), agora temos o primeiro passo do método científico: observar uma condição que neste nosso exemplo seria os efeitos da inclusão de probióticos na alimentação.
Batido o martelo quanto à condição a ser observada, agora precisamos pensar sobre o próximo passo que é encontrar uma forma de verificá-la.
Para isso você precisa definir as características (variáveis) a serem observadas ao longo do experimento (bem como ao final do experimento também).
Abaixo seguem algumas variáveis que você deve observar quando da administração de probióticos. Observar alterações em:
- Forma, cor e/ou consistência das fezes
- Periodicidade e a regularidade da defecação
- Flatulência
- Hálito (neste quesito será preciso aferição externa)
- Sensação de fome (pelas calorias ingeridas)
- Disposição e/ou bem estar generalizado
- Digestão
- Qualidade do sono
- Marcadores: glicose sanguínea, peso, medida da cintura etc
Em nosso próximo passo encontrar hipóteses para testar é onde temos a verdadeira coisa acontecendo ! É aqui que sua experiência e conhecimentos pessoais vão emergir, e questionamentos irão surgir. As hipóteses devem explicar fenômenos e observações. Quanto mais se pesquisar, e entender, sobre os aspectos relacionados à questão, melhores serão suas formulações. Usaremos uma forma muito fácil de lidar com as hipóteses pois é aqui que realmente os cientistas mostram maior seu verdadeiro dom e proficiência.
Voltando ao nosso pequeno exemplo sobre probióticos temos algumas perguntas que surgirão (dependendo do seu conhecimento sobre o assunto):
- probióticos realmente funcionam ?
- quais tipos de probióticos existe ?
- qual o melhor ?
- são todos iguais ?
- pode a inclusão de probióticos interferir na minha taxa de glicose ?
Criaremos hipóteses baseadas no conjunto “se… então”. No nosso pequeno exemplo podemos levantar muitas hipóteses (também dependerão do nível de conhecimento que você terá sobre o assunto). Seguem algumas:
- Se eu administrar probióticos então minhas fezes ficarão mais consistentes
- Se eu administrar probióticos então minha glicose vai baixar
- Se eu administrar probióticos então terei menos fome e farei ingestão menor de calorias
O mais importante agora é você definir a(s) hipótese(s) que irá testar !
O que nos leva ao próximo passo realizar um experimento para obter dados. É aqui que você precisa definir um processo, um protocolo para seu experimento, e estar atento a toda a gama de opções disponíveis à sua mão !
Que tipo variações tenho, por exemplo, à disposição para montar o meu protocolo ?
- Frequência na administração: 1x na semana, 2x na semana, 3x na semana, todos os dias da semana etc
- Dosagem do probiótico: uma unidade, duas unidades
- Horário da administração: logo ao acordar, antes do almoço, junto com uma refeição
- Tipo de probiótico: Yakult, Kefir ou outros leites fermentados, iogurte natural
- Tempo do experimento: 1 semana, 2 semanas
Ao final do período de experimento você deverá analisar os dados para alcançar uma conclusão, que é um passo que pode vir a gerar novos experimentos com aprimoramento do seu conhecimento sobre a questão a ser observada. Na verdade você pode ter resultados tão interessantes que pode até mesmo resolver criar novos protocolos, alterar as variáveis observadas ou até mesmo um novo experimento para observar uma questão totalmente nova que antes passou despercebido.
Então agora é o momento de colocar em prática tudo isto. Existem muitos assuntos que poderemos abordar sobre auto-experimentação; aguarde novos posts sobre o assunto !
E não se esqueça de compartilhar suas experiências ! Aqui no Canal Saúde Total temos muitos depoimento e experiências que já foram realizadas; fique atento às tags:
Ao longo das próximas semanas estaremos abordando mais tópicos sobre auto-experimentação e publicando novos depoimentos, desafios coletivos e experimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário